"Um cadáver.
Agora ela não passava de um simples cadáver jogado no meio da sala. O sangue ainda jorrava de sua cabeça, local onde a bala se fincara. O cheiro forte de sangue tomou conta do local e desabei de joelhos no chão. Meu cérebro se negava a acreditar no que havia acabado de acontecer, e por isso, as lágrimas demoram alguns segundos para brotarem.
O homem ainda apontava a pistola para o corpo no chão. Sua mão estava tremendo. Ele também estava apavorado com o que havia acabado de fazer.
Não. Ele não era um homem. Era um animal, uma fera sem alma. E essa fera sem alma era meu pai.
Infinitos segundos se passaram antes dele correr para fora do apartamento e fugir. O ódio se acumulou dentro de mim e tomei coragem para levantar, mesmo que minhas pernas se neguem a realizar tal movimento. Cambaleei em direção à porta e saí do prédio. As lágrimas ainda brotavam de meus olhos não importa quanto eu esfregasse-os.
Liguei minha moto e segui para o portão.
– Ei, Tobias! – O guarda chegou perto de mim. – O que foi? Acabei de ver seu pai sair correndo.
Não respondo. Apenas o encaro e depois fixo meu olhar em seu cinto. Num rápido movimento, desço da moto, puxo a arma de fogo e miro em sua direção.
Não atire. Não atire. NÃO ATIRE.
– Abra a droga desse portão. – Ele obedeceu e eu subi na moto. – Para que lado ele foi? – Pergunto rispidamente, mas ainda soluçando. O guarda, apavorado, aponta para o leste.
Só havia um lugar para onde ele poderia ter fugido.
Acelero, ainda com a pistola na mão direita, e passo direto por sinais vermelhos e entre vários carros. Mas eu não ouvia barulho nenhum, pois as batidas do meu coração estavam tão altas que ele poderia rasgar meu peito.
Antes mesmo de parar direito a moto, eu pulo dela que espatifa no chão arrastando-se alguns metros adiante.
Dane-se.
Entro no galpão abandonado chutando as portas, que se arrebentaram porque já estavam muito velhas.
Vejo somente uma silhueta e reconheço o alvo de meu ódio. Escondo a arma em meu bolso de trás e chego perto dele.
– Tobias. – Diz ele. Sua voz está dura e seu olhar vazio. Mas não havia vestígios de arrependimento em sua feição.
Agarro seu pescoço e empurro-o contra a parede. Ele tosse um pouco e tenta tirar minha mão de lá, mas não consegue. Olho de relance para o canto e vejo que ele havia deixado a arma no chão.
– Você está... Uff... Louco! – Engasga ele. Não respondo. – Não iria matar... Uff... seu próprio... pai!
Aperto mais seu pescoço. Mas então, o solto e puxo a arma do meu bolso, mirando-a contra seu peito esquerdo. Seu olhar mudou de vazio para extremamente apavorado. Ele levanta as mãos, tremendo.
– Solte essa arma, Tobias. – Diz ele tentando parecer confiante. Fracassou. – Lembre-se de nossos momentos juntos. Das risadas e momentos felizes. Eu proporcionei tudo isso para vocês!
Eu paguei tudo isso! Eu sustentei vocês por 17 anos, ou seja, desde que você nasceu, seu pirralho! – Grita ele.
– Então foi tudo por dinheiro?! – Finalmente grito em resposta.
– Mas é claro! Eu estava ficando duro! – Começamos a gritar. Ele estava louco. – Afinal, qualquer um faz qualquer coisa por dinheiro! Até você! Eles iriam me pagar uma nota preta com tantos zeros que você perde a conta! Eu só precisava matar... você, Tobias. – Ele gargalhou nervosamente. Aperto mais a arma contra seu peito e ele fica mais tenso.
Olho direto em seus olhos. Lágrimas de ódio voltaram a brotar e escorrerem por minhas bochechas. Ele ainda não estava arrependido. Junto todas as forças para soltar uma única frase, uma frase que nunca mais sairia de minha memória. A última frase que ele iria ouvir na vida.
– VOCÊ MATOU MINHA MÃE!
E puxo o gatilho."